Terça-feira, 1 de Junho de 2004
jesus em peles
Lamento ter aquilo que não sonho, respiro livremente como o direito de ter nascido sem pensamentos, amo o que não tem sentido e sinto o amor como uma perda. E tive a certeza de ter sentido, de ter tocado a infinidade do prazer, ter querido olhar para ti, e tu, a meu lado, cegamente me seguiste, pobre mulher amada, perdida na sua ingenuidade quase infantil, enforcada de amor, sentiste o pesar da minha alma vazia.
O meu cadáver imune ao sentido, enterrado em si próprio, devorado, descrente, que odeia ser a tua lágrima, em noites de solidão.
Que terra desesperada me enlaça nos teus desejos, que sonho perfeito passeia no meu inconsciente Leva.me amor antigo para longe das loucuras que esperam as chuvas doces de um inverno púrpura, sente o perigo que vem na brisa fria, e consome as vontades.
neste dia serpenteado de medo onde nos encontramos a flutuar na angústia, desejo o tardio amanhecer e as forma negras da noite que dançam nas vidraças envolta no perfeito clarear de um dia qualquer, as cortinas brancas, imóveis, olhos entre.abertos
como que a pedir consciência repousavam nas sombras de um qualquer pormenor frio.
A posição fetal, com que ensaio mais um dia sem vontades próprias, sem pensamentos transcendentes, a respiração compulsiva que me atordoa a mente, silenciam a imaginação que um dia viu nascer.me. o vácuo transforma.me numa alma inerte, e só as entranhas me transformam num homem, só o teu sentido inocente.
Sofro com a monotonia da noite, aquela que um dia nos criou, semblantes carregados de inocência crentes que a estética da alma é tão insignificante como o dom da palavra em seres sem sentimento. Discuro o pensamento em função de um sentido abstracto invoco leis verdadeiras, temporais, desfeitas pela fraca memória dos antigos poetas.
Esta vil tristeza que enterra o meu direito de sonhar a realidade, e nos faz cruzar caminhos do mal, poeirentos, de tão seco o sol se põe. Caímos em quadros pintados com cores vivas, que injustamente nada tem a ver com o azul desbotado que o criador usou. AH! Espírito medíocre, da-me um abraço mesmo pálido, vazio,
como a uma oliveira morta, sofrerei somente na pele a violência do toque..
Agora as amargas farpas de egoísmo que me rasgam a alma em pedaços ilegíveis
só me contemplam a saudade de ter amado. Houvesse um relógio parado nesta hora, sentiria a mais profunda tristeza por estar para sempre só.